Passo 13: Study Chapter 6

     

Explorando o significado de Mateus 6

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A man praying at a Japanese Shintō shrine, by Kalandrakas ([http://www.flickr.com/people/86251769@N00 カランドラカス]) from Kanagawa, Japan

O Sermão da Montanha (Parte 2)

Colocar Deus em primeiro lugar


1."Tende cuidado para não fazerdes a vossa esmola diante dos homens, para serdes observados por eles; de contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está nos céus.

2. Por isso, quando deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles têm a sua recompensa.

3. Mas, quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita,

4. Para que a tua esmola fique em segredo, e teu Pai, que olha em segredo, te pague com o que é manifesto.

5. E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para aparecerem aos homens. Em verdade vos digo que eles têm a sua recompensa.

6. Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto, e teu Pai, que olha em secreto, te recompensará no que é manifesto.

7. E, quando orardes, não faleis sem cessar, como os gentios, porque pensam que serão ouvidos pelas suas muitas palavras.

8. Não sejais, pois, como eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.

9. Assim, pois, orai: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;

10. Venha a nós o Vosso reino; seja feita a Vossa vontade, assim no céu como na terra.

11. O pão nosso de cada dia nos dai hoje.

12. E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.

13. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque Teu é o reino, o poder e a glória, para sempre. Amém.

14. Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós.

15. Mas, se não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas."


A série de ensinamentos anteriores teve como foco o amor ao próximo. Esse amor deve ser tão amplo que se estenda além das fronteiras da família, além das fronteiras da vizinhança e até mesmo além das fronteiras de um determinado grupo religioso.

Deveria fluir para toda a humanidade, brilhando como o sol, igual e imparcialmente sobre os bons e os maus, caindo como a chuva sobre os justos e os injustos - da mesma forma que o amor de Deus brilha sobre todos, da mesma forma que a sabedoria de Deus cai como a chuva em todo o lado. Por outras palavras, a bondade e a verdade que fluem de Deus para nós não devem ficar por aqui. Estas bênçãos devem estender-se a todo o género humano.

No entanto, neste próximo capítulo, há uma mudança de foco. Enquanto a série anterior de ensinamentos centrava a nossa atenção no próximo, a presente série de ensinamentos centra a nossa atenção em Deus - a verdadeira fonte de todas as boas obras. As boas obras são, evidentemente, necessárias, mas têm de ser feitas com o espírito correto. Por isso, Jesus diz: "Tende cuidado para não fazerdes as vossas obras de caridade diante dos homens, para serdes vistos por eles; de contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está nos céus" (6:1).

Jesus está agora a meio do Seu sermão e continua sentado no monte. Tem estado a ensinar sobre as Escrituras para que possam ser corretamente compreendidas. Mas não basta compreender corretamente as Escrituras. Nem mesmo fazer o que elas ensinam é suficiente. Se essas obras devem ser feitas no espírito correto, não devem ser feitas por causa da honra, da reputação ou do ganho pessoal.

É por isso que Jesus diz: "Quando fizeres uma obra de caridade, não faças tocar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles têm a sua recompensa" (6:2).

Jesus está aqui a referir-se à recompensa superficial e temporária de ser estimado pelos outros. Embora não haja nada de errado em fazer coisas que possam evocar gratidão, louvor e admiração, esse não é o tipo de "recompensa" que uma pessoa que busca a perfeição procura. Em vez disso, as pessoas que desejam refinar continuamente o seu espírito não procuram o louvor e a admiração dos outros; em vez disso, procuram apenas fazer a vontade do Senhor, sabendo que as recompensas para este tipo de esforço - paz interior, alegria tranquila e segurança abençoada - são dadas em segredo.

Por isso, Jesus diz: "Quando fizeres uma obra de caridade, não deixes que a tua mão esquerda saiba o que a direita está a fazer. Assim, as tuas obras de caridade serão feitas em segredo, e o teu Pai, que vê em segredo, te recompensará" (6:3-4).

Esta passagem é muitas vezes traduzida como: "O teu Pai, que vê em segredo, recompensar-te-á abertamente". Embora os tradutores possam ter tentado contrastar os termos "em segredo" e "abertamente", não é isso que a passagem diz.

No original grego, o verbo é simplesmente apodōsei (ἀποδώσει) que significa "recompensará" ou "retribuirá". A implicação é que haverá definitivamente uma recompensa de algum tipo, mas não necessariamente uma pública ou material. Em vez disso, ela manifestar-se-á de alguma forma através dos sentimentos mais interiores de paz, alegria e bem-aventurança. É assim que o Pai que vê em segredo nos recompensa com bênçãos espirituais. Isso inclui os sentimentos calmos e felizes que desfrutamos quando realizamos algum ato de serviço útil sem pensar em recompensa. 1

Comunicar com Deus

Ao continuar esta lição sobre colocar Deus em primeiro lugar - e não a glória própria e o ganho material - Jesus também dá instruções sobre como comunicar com Deus. Em primeiro lugar, a comunicação com Deus deve ser feita em privado, e não com o objetivo de obter elogios públicos. Como diz Jesus: "Quando orares, entra no teu quarto interior e fecha a porta (...) e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará no que é manifesto" (6:6).

O "quarto interior", que às vezes é traduzido como "armário", "câmara" ou "quarto" é tameion [ταμεῖόν] que também significa "câmara secreta". Se tomarmos isso literalmente, parece estar falando sobre um lugar tranquilo para oração ininterrupta. Embora este seja um conselho bom e prático, a escolha da palavra também sugere o interior da mente humana - nosso "quarto interior". Trata-se de ir para dentro, afastando-nos de todas as distracções sensuais e preocupações materiais, enquanto tentamos entrar em comunhão silenciosa com Deus.

Quando "fechamos a porta", deixamos para trás os cuidados do mundo, juntamente com todas as preocupações do ego. Acalmamos a nossa mente, concentrando-nos exclusivamente na nossa relação com Deus e na relação de Deus connosco. Como está escrito no profeta Isaías, "Tu conservarás em perfeita paz aquele cuja mente está firme em Ti" (Isaías 26:3).

Ao continuar as Suas instruções sobre a forma de nos ligarmos a Deus, Jesus diz que as orações não devem ser cheias de "vãs repetições" nem é necessário usar muitas palavras (6:7). Como ilustração, Jesus dá um exemplo de uma oração simples, que começa, como todas as orações devem começar, com um discurso direto a Deus, que é o Pai de todos nós - o nosso Pai. Esta simples frase serve para nos lembrar que somos todos irmãos e irmãs do mesmo Pai celestial.

As implicações são poderosas e profundas. A frase, "nosso Pai", serve para nos lembrar que não adoramos um tirano invisível e distante, mas um Pai amoroso com quem temos uma relação profunda e pessoal. Tudo isto, e muito mais, está incluído nas palavras iniciais desta oração divinamente dada: "Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu nome. Venha a nós o Vosso reino. Seja feita a Tua vontade, como no céu, assim na terra" (6:10).

A oração começa desta forma para nos ajudar a concentrarmo-nos no que é essencial - a nossa relação com Deus, especialmente a importância de fazer a Sua vontade - ou seja, trazer o céu à terra. Depois desta invocação, a oração está cheia de expressões que envolvem a nossa relação com o próximo. Lemos: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal" (6:11-13). Mas a oração termina como começa, com um claro enfoque em Deus: "Porque Teu é o reino, o poder e a glória para sempre" (6:12-13).

No versículo seguinte, Jesus reforça um dos temas centrais da oração: o perdão. Para garantir que os seus ouvintes não perdem este ponto importante, ele deixa bem claro que o perdão dos outros não pode ser separado do perdão de Deus para connosco. Como diz Jesus: "Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celestial vos perdoará a vós" (6:14). Isto não deve ser entendido como se Deus estivesse de alguma forma a reter o Seu perdão até que façamos a nossa parte. Pelo contrário, significa que quando fazemos o bem aos outros, abrimos caminho para experimentar o perdão que está constantemente a fluir de Deus.

Mas Jesus é claro quando diz que o inverso é igualmente verdadeiro. Ele diz: "Se não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai não vos perdoará as vossas ofensas" (6:15). Por outras palavras, na medida em que perdoamos aos outros, experimentamos o perdão de Deus. E na medida em que não perdoamos os outros, fechamo-nos às bênçãos que Deus anseia por nos dar.

A escolha é sempre nossa. Por isso, Jesus ensina-nos a pedir perdão a Deus. "Perdoa-nos as nossas ofensas", rezamos, para que possamos receber o perdão de Deus. Depois, à medida que nos enchemos do perdão de Deus, podemos oferecer o perdão aos outros. Este é um processo em duas etapas. Primeiro, voltamo-nos para o Senhor, dizendo: "Perdoa-nos as nossas ofensas". Só então podemos voltar-nos para o próximo, perdoando aqueles que nos ofenderam.

Mais uma vez, somos lembrados de que tudo começa no nosso relacionamento com Deus.

Uma aplicação prática

Jesus apresenta o Pai-Nosso como um modelo para os seus discípulos. Mas fá-lo no contexto de não fazer "vãs repetições". Infelizmente, e ironicamente, esta bela oração, que pode pôr-nos em contacto com comunidades angélicas ilimitadas, pode por vezes tornar-se uma vã repetição. Pode ser recitada de forma mecânica e sem sentido. Como aplicação prática, então, use esta oração como um veículo para se conectar com o Senhor e com as influências celestiais. Recite cada frase com cuidado e reverência, permitindo que o significado mais profundo tenha efeito. Por exemplo, quando diz: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje", pense no seu desejo de receber alimento espiritual do Senhor, ou seja, pensamentos nobres e emoções benevolentes. Permita que esta santa oração o ligue ao céu. 2

Sobre o jejum


16. "E quando jejuardes, não sejais como os hipócritas, de semblante triste, pois eles estragam o rosto, para parecerem aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles têm a sua recompensa.

17. Mas tu, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto,

18. Para que não pareças aos homens que jejuas, mas a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que olha em secreto, te recompensará no que é manifesto."


Depois de se concentrar na oração, Jesus volta agora a Sua atenção para o jejum. Jesus diz: "Além disso, quando jejuardes, não sejais como os hipócritas, de semblante triste. Pois eles desfiguram o rosto para parecerem aos homens que estão a jejuar" (6:16).

Mais uma vez, as instruções literais são muito claras. Assim como Jesus adverte contra fazer boas acções para ser admirado, ou rezar em público para ser visto como piedoso, Ele também adverte contra o jejum hipócrita. Esta prática espiritual não deve ser usada como uma forma de parecer justo aos olhos dos outros. Nem deve ser usada para demonstrar ao Senhor o quanto estamos a sofrer, ou a profundidade do nosso desespero, na esperança de que Ele venha em nosso auxílio.

A ideia de que temos de provar ao Senhor que estamos realmente a sofrer para chamar a Sua atenção e merecer a Sua piedade é uma crença antiga. Os antigos israelitas acreditavam que rasgar as roupas, envolver-se em pano de saco, rolar em cinzas e jejuar eram algumas das muitas maneiras de afligir a alma. Estas práticas incluíam não só demonstrações exteriores de angústia interior, mas também demonstrações exteriores de arrependimento, efectuadas publicamente na esperança de que Deus e os outros reparassem nelas.

Num episódio ilustrativo das escrituras hebraicas, o rei Acab é informado de que a destruição está prestes a cair sobre ele por causa da sua maldade. Quando Acabe ouviu isto, "rasgou as suas vestes, pôs pano de saco sobre a sua carne, jejuou e andou desanimado" (1 Reis 21:27). A demonstração de sofrimento de Acabe parecia funcionar. A passagem continua: "E a palavra do Senhor veio a Elias, dizendo: Vês como Acabe se humilha perante Mim? Porque se humilha perante Mim, não trarei desgraça sobre a sua casa" (1 Reis 21:29). Do mesmo modo, Jeremias atribui estas palavras ao Senhor: "Ó filha do Meu povo, veste-te de pano de saco e rola-te na cinza; chora como por um filho único, com amargo lamento" (Jeremias 6:26).

Mas Jesus ensina que há uma maneira melhor de lidar com o sofrimento. Ele sabe que o sofrimento surge nos momentos em que sentimos privação espiritual. Nesses momentos de angústia, há uma tendência para andarmos desanimados, tristes e sombrios, sentindo-nos abandonados por Deus. Parece não haver alimento espiritual à mão. O que talvez não nos apercebamos é que estamos no meio de uma tentação espiritual. A solução, porém, não se encontra no pano de saco, na cinza e num jejum pretensioso.

Em vez disso, Jesus oferece o antídoto. "Quando jejuares", diz Ele, "unge a tua cabeça e lava o teu rosto, para que não pareça aos homens que estás a jejuar" (6:17). A nível literal, trata-se de um bom conselho prático. Não é bom andar por aí a espalhar a tristeza e o desespero.

Mas as palavras de Jesus contêm uma mensagem mais interior. Um jejum espiritual começa com a recusa de aceitar ideias falsas e maus desejos. Além disso, ao longo das Escrituras, o "óleo" é um símbolo do amor de Deus e a "água" é um símbolo da verdade de Deus. Espiritualmente falando, então, Jesus está a dar bons conselhos sobre o que fazer em tempos de tentação espiritual. Aqui, a mensagem mais profunda é: "Quando surgirem maus desejos, unge a tua cabeça com o óleo do amor de Deus, e quando surgirem ideias falsas, lava o teu rosto com a verdade da sabedoria de Deus."

A única maneira de o fazermos é dirigirmo-nos ao Senhor em oração com uma atitude correta. Isto significa que rezamos não num esforço para demonstrar o nosso sofrimento. Em vez disso, rezamos com um coração humilde para receber o alimento de Deus. Por mais difícil que seja a luta, seremos sustentados a partir do nosso interior. Como diz Jesus: "E o vosso Pai, que vê em segredo, recompensar-vos-á no que é manifesto" (6:18).

Mesmo que a situação externa não mude, Deus pode fazer o milagre interior de trazer ânimo quando nos sentimos desanimados, esperança quando nos sentimos sem esperança e conforto quando nos sentimos desesperados.

Ao longo desta secção, Jesus deixa claro que estas recompensas secretas estão sempre disponíveis para nós, sempre que jejuamos do mal e da falsidade, e depois nos voltamos para o Senhor, abrindo-nos ao Seu alimento espiritual. Quer estejamos a fazer obras de caridade, a rezar ou a passar por um período de jejum, se nos voltarmos para o Senhor, é certo que surgirão sentimentos de paz interior, de alegria tranquila e de segurança abençoada. É assim que o Senhor, que vê em segredo, nos recompensa manifestamente.

Uma aplicação prática

Sempre que o nosso ego se sente maltratado, incompreendido ou desiludido de alguma forma, há uma tendência para nos queixarmos da nossa situação e lamentarmos os nossos infortúnios. Quando isto acontece, temos de evitar a tendência para "rebolar em saco e cinza", queixando-nos excessivamente da nossa condição. De facto, Jesus diz-nos para não andarmos com uma cara triste a defender o nosso ego ferido. Pelo contrário, devemos resistir a qualquer tendência para nos entregarmos à auto-piedade ou usarmos os nossos problemas como forma de chamar a atenção para nós próprios. Como aplicação prática, então, pratique um jejum adequado de auto-piedade e de queixas. Rezar para receber alimento espiritual. Como diz Jesus: "Quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto, para que não pareça aos homens que estás a jejuar" (6:17-18).

Tesouros no Céu


19."Não acumuleis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem estragam, e onde os ladrões escavam e roubam;

20. Mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem estragam, e onde os ladrões não escavam nem roubam.

21. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.

22. A candeia do corpo são os olhos; se, pois, os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será iluminado;

23. Se, porém, o teu olho for mau, todo o teu corpo será tenebroso; se, pois, a luz em ti são trevas, quão grandes são as trevas!"


À medida que o Sermão da Montanha continua, Jesus reforça a importância de nos concentrarmos nas coisas do Céu, colocando-as acima das coisas da Terra: "Não ajunteis tesouros na Terra" (6:19) diz Jesus. Em vez disso, "ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem destroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam" (6:20).

Devemos valorizar as coisas do céu acima das coisas da terra, pois as coisas da terra passarão, mas os tesouros do céu - a sabedoria que recebemos da Palavra e as qualidades espirituais que cultivamos ao vivermos de acordo com essa sabedoria - permanecerão para sempre. Como está escrito nas escrituras hebraicas: "A erva seca, a flor murcha, mas a Palavra de Deus permanece para sempre" (Isaías 40:8).

A Palavra de Deus, e a sabedoria celestial que podemos receber através dela, é de facto um grande tesouro; aguça a nossa visão espiritual e ilumina a nossa mente. Como diz Jesus: "Se, pois, os teus olhos forem bons, todo o teu corpo estará cheio de luz" (6:22). Uma compreensão correta da Palavra de Deus mostra-nos que tudo o que acontece pode ser transformado em bem, por mais contrário à nossa vontade que possa parecer no momento.

No entanto, se não escolhermos acumular para nós os tesouros da sabedoria celestial, ou desenvolver qualidades celestiais, a nossa perspetiva de vida será manchada pelas preocupações mais obscuras do nosso eu inferior. "Se o teu olho for mau", diz Jesus, "todo o teu corpo estará cheio de trevas" (6:23). Por isso, Jesus alerta-nos para as consequências de vermos todas as coisas em termos das nossas atitudes de medo, da nossa falsa compreensão e dos nossos desejos egoístas. Se nos recusarmos a ouvir as palavras de Jesus, lançamo-nos nas trevas e na miséria. A sua advertência é feita em termos inequívocos. Ele diz: "Quão grandes são essas trevas!" (6:23)

Jesus está aqui a distinguir entre recompensas terrenas e recompensas celestiais. Todas as recompensas temporais, materiais - tudo o que enferruja, tudo o que as traças podem destruir, tudo o que os ladrões podem roubar - passarão. Mas as recompensas celestiais nunca se perdem. Elas são eternas. A alegria que um dia sentimos ao ajudar alguém desinteressadamente nunca nos poderá ser tirada; a satisfação de um trabalho bem feito pode tornar-se uma recordação duradoura; o sentimento de ser verdadeiramente amado por um avô bondoso - tudo isso são tesouros celestiais que nada na Terra pode fazer enferrujar, que as traças não podem destruir e que os ladrões não podem roubar. Essas experiências preciosas e os sentimentos a elas associados estarão conosco para sempre. Mesmo quando a memória se desvanecer, esses tesouros continuarão lá.

É por esta razão que Jesus nos exorta a concentrarmo-nos principalmente nas coisas do céu: o Senhor, a Palavra e uma vida de serviço. Este deve ser o nosso "mestre". Tudo o resto deve ser secundário. Como diz Jesus: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou há-de ser fiel a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom" (6:24).

O termo "Mamon" é uma palavra aramaica que significa "riquezas" ou "património". Como tal, transmite a ideia da busca servil da riqueza e dos bens, até ao ponto em que esta paixão se torna um desejo que nos controla e nos governa. Torna-se o nosso falso deus. O resultado é que o nosso olhar permanece fixo nas coisas do mundo e não nas coisas do céu. Somos "governados" por Mammon.

A absorção no materialismo, o desejo de riqueza e tudo o que está associado a Mammon pode impedir-nos de experimentar as melhores bênçãos do céu. Portanto, o amor ao Senhor, o amor ao céu e o amor ao próximo devem predominar sobre o amor a si mesmo e o amor às coisas materiais do mundo. Se dissermos que amamos o Senhor e a nós mesmos igualmente, ou o céu e o mundo igualmente, seria como tentar olhar para cima com um olho e para baixo com o outro. Devemos colocar o nosso amor a Deus acima do amor a si mesmo, e o nosso amor ao céu acima do nosso amor ao mundo. 3

É preciso notar, porém, que não é a riqueza ou as riquezas em si que devem ser desprezadas e odiadas, mas sim o amor a elas como fins em si mesmas. Sempre que a nossa atenção se centra em nós próprios, na nossa felicidade, na nossa segurança, na nossa importância e no nosso conforto, estamos a servir-nos a nós próprios e não a Deus.

É claro que não é errado sustentarmo-nos a nós próprios e às nossas famílias. No entanto, é preciso ter cuidado para que o nosso desejo de alcançar um conforto e uma segurança razoáveis na nossa própria vida não se torne uma paixão motriz e a nossa principal preocupação. Nem deve competir com o nosso amor a Deus e o nosso amor pelo céu. Na medida em que a ambição mundana nos domina, tornamo-nos escravos e Mamon torna-se o nosso senhor.

Uma aplicação prática

Embora as coisas do mundo tenham os seus encantos e prazeres, recompensas e satisfações, devem estar sempre subordinadas às coisas do céu. Como diz Jesus: "Acumulai para vós tesouros no céu". Como aplicação prática, então, considere o que ocupa o seu pensamento e como gasta o seu tempo. Está mais virado para as coisas do céu ou para as coisas do mundo? Está mais preocupado em atingir os seus próprios objectivos ou em ajudar os outros a atingirem os deles? Arranja espaço para Deus, para a oração, para o estudo da Bíblia e para o serviço sem pensar numa recompensa terrena, ou está demasiado ocupado a perseguir ambições mundanas? Ao refletir sobre estas questões, tenha em mente a afirmação clara de Jesus: "Não podeis servir a Deus e a Mamom". Dedique tempo a acumular tesouros no céu.

Não Esteja Ansioso


24. "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou há-de apegar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.

25. Por isso vos digo: Não andeis ansiosos pela vossa alma, quanto ao que haveis de comer e beber, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a alma mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?

26. Olhai atentamente para as aves do céu, porque elas não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros, e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós mais valor do que elas?

27. E qual de vós, estando ansioso, pode acrescentar um côvado à sua estatura?

28. E por que estais ansiosos pelo vestuário? Considerai os lírios do campo, como crescem; não trabalham, nem fiam;

29. Digo-vos, porém, que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.

30. E, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?

31. Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que havemos de vestir-nos?

32. Porque todas estas coisas procuram as nações; pois o vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas elas.

33. Mas buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

34. Não andeis, pois, ansiosos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã há-de andar ansioso pelas coisas de si mesmo. Basta ao dia o seu mal.


Jesus conclui este segmento dos Seus ensinamentos com as palavras: "Não andeis ansiosos". Isto é muitas vezes traduzido como "Não te preocupes" ou "Não penses". Mas a palavra grega usada neste caso é merimnaō [μεριμνάω] que significa "preocupar-se excessivamente", "estar muito preocupado" e "ser puxado para fora". À luz do ensinamento de Jesus de que não podemos servir a Deus e a Mamom, não podemos deixar que os nossos cuidados mundanos ou ambições mundanas nos afastem ou nos separem do nosso amor por Deus.

Na sua carta aos Romanos, o apóstolo Paulo coloca a questão desta forma: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? .... Estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 8:35; 38-39).

Este é um bom conselho. No entanto, se tomarmos as palavras de Jesus à letra, colocam-se várias questões. O que é que nos vai acontecer se optarmos por servir Deus, independentemente do resultado? Teremos o suficiente para comer? Teremos o suficiente para beber? Seremos capazes de providenciar roupa e abrigo para as nossas famílias? Jesus antecipa estas preocupações quando diz: "Não andeis ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir" (6:25).

O que é que estas palavras significam realmente? Estará Jesus a dizer que devemos deixar de nos preocupar com as nossas necessidades terrenas? Não nos devemos preocupar com o facto de podermos ou não pagar a renda ou pôr comida na mesa? Estará Jesus a pedir-nos que deixemos de nos preocupar com a aquisição das coisas essenciais à nossa própria sobrevivência - comida, bebida, roupa e abrigo? Que será de nós? O nosso instinto de auto-preservação rebela-se naturalmente contra esta ideia.

Por outro lado, temos outros instintos - instintos mais elevados, mais nobres. Estes incluem um sentido intuitivo de que Deus nos ama, deseja a nossa felicidade e proverá a todas as nossas necessidades. Jesus, de facto, fala desta intuição mais elevada quando diz: "Olhai para as aves do céu, que não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós mais valor do que elas?" (6:26). Quando entendida desta forma, a exortação de Jesus para não andarmos ansiosos pode ser muito reconfortante. Como diz Jesus: "Qual de vós, estando ansioso, pode acrescentar um côvado à sua estatura? (6:27).

As palavras de conforto e segurança de Jesus continuam. Ele diz: "Então, porque estais ansiosos pelo vestuário? Considerai os lírios do campo, como crescem: não trabalham nem fiam; e eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles" (6:28-29). De seguida, Jesus repete o refrão dominante desta lição. Ele diz: "Não andeis ansiosos". Não façais perguntas como: "Que havemos de comer?" ou "Que havemos de beber?" ou "Que havemos de vestir?" O vosso Pai celestial sabe que precisais de todas estas coisas (6:31-32).

Jesus reforça então a ideia que tem sido central ao longo desta parte do seu sermão. Devemos manter-nos concentrados em Deus. Este deve ser o mais importante na nossa mente, acima e para além de tudo o resto. Como diz Jesus, "Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça". E depois, tranquiliza imediatamente os Seus ouvintes com estas palavras de conforto: "e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (6:33).

É reconfortante saber que "todas estas coisas nos serão acrescentadas". Mas estaríamos enganados se pensássemos que Deus quer que abandonemos todo o interesse por este mundo, que nos descuidássemos de nós próprios e das nossas famílias e que procurássemos apenas o Reino de Deus. Jesus não está a pregar o abandono imprudente e a irresponsabilidade. Pelo contrário, está a ensinar sobre prioridades; está a ensinar-nos o que deve ser supremo nas nossas vidas em comparação com o que deve ser de importância secundária.

A este respeito, note-se que Jesus não diz para procurarmos apenas o Reino de Deus. Pelo contrário, Ele diz para procurarmos primeiro o reino de Deus. A exortação a procurar primeiro o reino de Deus implica ordem e subordinação, não exclusividade ou abandono total. Um verdadeiro crente amará, naturalmente, a Deus e ao próximo (incluindo a si próprio), mas a devoção a Deus virá sempre em primeiro lugar. Um verdadeiro crente amará tanto o céu como as coisas do mundo, mas a devoção às coisas do céu terá sempre precedência sobre as coisas do mundo. 4

Os verdadeiros crentes serão, portanto, cônjuges fiéis, pais responsáveis, cuidadores compassivos e cidadãos contribuintes Mas em tudo isso haverá uma constante e silenciosa confiança interior em Deus. Essas pessoas vão tratar dos assuntos da vida quotidiana com calma e honestidade, sem serem abaladas por contratempos e contentes com todas as coisas, quer pareçam estar a seu favor ou não. Uma pessoa assim mantém-se concentrada em Deus, mesmo quando se ocupa de assuntos mundanos. Sabe que Deus está sempre a providenciar, momento a momento, e tem uma compreensão profunda do que Jesus quer dizer quando diz: "Não andeis ansiosos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará das suas próprias coisas" (6:34). 5

Uma aplicação prática

A certeza de que Deus está continuamente a providenciar para nós deve inspirar-nos a fazer tudo o que pudermos pelos outros, sabendo que Deus está a fazer tudo o que pode por nós. Com esta certeza, podemos enfrentar os desafios de cada dia com coragem e equanimidade, confiando em Deus e certificando-nos de que as nossas vidas são conduzidas de acordo com a Sua vontade. Embora haja novos desafios todos os dias, desde que descansemos satisfeitos em Deus, podemos superar tudo, dia após dia. Como diz Jesus: "Basta ao dia o seu próprio mal" (6:34). Como aplicação prática, então, continue a cuidar, continue a providenciar, continue a ser um bom chefe de família, mas não deixe que nada o separe do amor de Deus. Em tudo o que fizeres, lembra-te das palavras de conforto de Jesus: "Não andes ansioso".

Notas de rodapé:

1AC 6299:3 “O sentimento calmo e feliz que as pessoas desfrutam quando fazem o bem ao próximo sem pensar em qualquer recompensa é o aspeto interno da igreja". Ver também O Amor Conjugal 7[3]: “O reino dos céus é um reino de serviços úteis. A razão é que o Senhor ama todos os homens e, por isso, quer o bem para todos, e o bem significa serviço útil. Ora, como o Senhor realiza serviços bons ou úteis indiretamente, através dos anjos, e no mundo, através dos homens, então, àqueles que fielmente realizam serviços úteis, Ele dá o amor de ser útil e a sua recompensa. A recompensa é a bem-aventurança interior, e esta bem-aventurança é a felicidade eterna."

2Arcanos Celestes 2493: “Conversei com os anjos a respeito da lembrança das coisas passadas e da conseqüente ansiedade em relação às coisas futuras; e fui instruído de que quanto mais íntimos e perfeitos são os anjos, menos se preocupam com as coisas passadas e menos pensam nas coisas futuras; e também que daí vem sua felicidade. Dizem que o Senhor lhes dá a cada momento o que pensar, e isso com bem-aventurança e felicidade; e que assim estão livres de preocupações e ansiedades. Além disso, que isso foi significado no sentido interno pelo maná sendo recebido diariamente do céu; e pelo pão diário na Oração do Senhor."

3AE 409:7: “As palavras 'Nenhum servo pode servir a dois senhores' ... devem ser entendidas como se referindo àqueles que desejam amar o Senhor e a si mesmos igualmente, ou o céu e o mundo igualmente. São como aqueles que querem olhar com um olho para cima e com o outro para baixo, isto é, com um olho para o céu e com o outro para o inferno, e assim ficar entre os dois. E, no entanto, deve haver uma predominância de um desses amores sobre o outro.... Pois o amor de si mesmo e do mundo é o oposto do amor ao Senhor e do amor ao próximo. Por isso, os que estão no amor celestial preferem morrer ou ser privados de honras e riquezas no mundo a serem afastados por elas do Senhor e do céu; pois este [o amor ao Senhor e ao próximo] eles consideram o tudo, porque é eterno, mas o primeiro [o amor às riquezas e aos ganhos mundanos] eles consideram relativamente nada, porque termina com a vida no mundo."

4Arcanos Celestes 9184: “O homem exterior não tem gosto por nada, a não ser pelas coisas do mundo e de si mesmo, isto é, pelas delícias que advêm do ganho e das posições importantes. Mas quando o interior se abre pela regeneração... a ordem inverte-se, ou seja, o que ocupava o primeiro lugar passa a ocupar o último. Quando isso acontece, o Senhor atrai para Si todos os aspectos da vida dentro de uma pessoa, de modo que esses aspectos ficam voltados para cima. Então, as coisas que são do Senhor e do céu são vistas pela pessoa como prioridades, e o próprio Senhor como a prioridade de todas as prioridades... Quando a ordem da vida numa pessoa é assim, o ganho e as posições importantes são uma bênção; mas se essa ordem for invertida, são uma maldição. A verdade de que todas as coisas são uma bênção quando a ordem celestial existe em uma pessoa é o ensinamento do Senhor em Mateus: 'Buscai primeiro o reino dos céus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas'".

5AC 8478:1-2: “Quem não olha o assunto mais profundamente do que a partir do sentido da letra pode acreditar que todo cuidado com o amanhã deve ser deixado de lado e, portanto, que as necessidades da vida devem ser esperadas diariamente do céu. Mas quando uma pessoa olha para o assunto mais profundamente do que a partir da letra, como por exemplo, quando se olha para ele a partir do sentido interno, pode-se saber o que se quer dizer com "cuidado com o amanhã". Não significa o cuidado de obter para si mesmo alimento e vestuário, e mesmo recursos para o tempo vindouro; pois não é contrário à ordem de ninguém ser previdente para si mesmo e para os seus. Mas preocupam-se com o amanhã aqueles que não se contentam com a própria sorte, que não confiam no divino, mas em si mesmos, e que se preocupam apenas com as coisas mundanas e terrenas, e não com as coisas celestiais. Nesses, reina universalmente a ansiedade pelas coisas futuras... Esses são os que se preocupam com o amanhã. Muito diferente é o caso daqueles que confiam no Divino. Estes, apesar de se preocuparem com o amanhã, ainda assim não o têm, porque não pensam no amanhã com solicitude, muito menos com ansiedade. O seu espírito não se perturba, quer alcancem ou não os objectos do seu desejo, e não se afligem com a perda deles, contentando-se com a sua sorte. Se se tornam ricos, não põem o coração na riqueza; se são elevados a honras, não se consideram mais dignos do que os outros; se se tornam pobres, não se entristecem; se as suas circunstâncias são más, não se abatem. Eles sabem que, para aqueles que confiam no Divino, todas as coisas avançam em direção a um estado feliz para a eternidade, e que tudo o que lhes acontece no tempo ainda é conducente a isso."