Hapi 11: Study Chapter 5

     

Explorando o significado de Mateus 5

Shih informacionin bibliografik
This fresco was created by Franz Xaver Kirchebner in the Parish church of St. Ulrich in Gröden, Italy, which was built in the late 18th century.

O Sermão da Montanha (Parte 1)


1. E, vendo as multidões, subiu ao monte e, tendo-se sentado, aproximaram-se dele os seus discípulos.

2. E, abrindo a boca, ensinava-os, dizendo,

3. "Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.

4. Felizes os que choram, porque serão consolados.

5. Felizes os mansos, porque herdarão a terra.

6. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.

7. Felizes os misericordiosos, porque terão misericórdia.

8. Felizes os limpos de coração, porque verão a Deus.

9. Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.

10. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.

11. Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.

12. Saltai de alegria e regozijai-vos, porque a vossa recompensa é grande nos céus; pois assim perseguiram os profetas que foram antes de vós."


Quando este episódio seguinte começa, grandes multidões vêm ter com Jesus, não só da Galileia, mas também da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e de zonas situadas para lá do Jordão. Ao ver as multidões, Jesus sobe a um monte, abre a boca e começa a pregar. A sua instrução começa com este ensinamento essencial: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" (5:3).

No capítulo anterior, Jesus foi batizado e depois passou por uma série de tentações no deserto. Na tentação, um objetivo superior ou um objetivo espiritual é ameaçado, contrariado ou desafiado. Nesses momentos, tomamos consciência dos desejos da nossa natureza inferior, ou seja, o desejo de agir de acordo com os nossos males hereditários.

Estes estados de tentação servem para nos lembrar o quanto precisamos do Senhor na nossa vida, e que sem Deus nada podemos fazer. Este reconhecimento leva-nos a um estado de verdadeira humildade, no qual reconhecemos a nossa pobreza espiritual. Na Sagrada Escritura, este estado de humildade é chamado de "pobre em espírito". É por isso que Jesus começa a Sua instrução com as palavras: "Bem-aventurados os pobres de espírito".

É este estado de humildade que abre o caminho para receber a bondade e a verdade que fluem de Deus. É por isso que Jesus diz, em relação àqueles que reconhecem a sua pobreza espiritual, "porque deles é o reino dos céus".

É neste estado de humildade que nos dirigimos ao Senhor em oração, confessando a nossa pobreza espiritual e arrependendo-nos dos nossos pecados. Sentindo remorso pelas coisas que dissemos e fizemos, percebemos o quanto precisamos das qualidades do Senhor para guiar e dirigir nossas vidas. É por isso que a bênção seguinte é: "Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados" (5:4).

À medida que o Senhor nos conforta, os desejos de nossa natureza inferior são subjugados e acalmados. As nossas inclinações para o amor-próprio desordenado e para as coisas do mundo são subjugadas. Isto inclui coisas como a impaciência, o ciúme, a defensividade, o ressentimento, a raiva, o desprezo e a cobiça. Quando estes desejos da nossa natureza inferior são domados, deixam de dominar e governar as acções da nossa vida diária. Como diz Jesus: "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra" (5:4).

No original grego, a palavra para "manso" é proas [πραΰς] que significa "domar". As pessoas que acalmaram, subjugaram e domesticaram os amores desordenados do eu e do mundo estão agora prontas para que o Senhor aja nelas e através delas. Elas querem viver uma vida boa e fazer o que é certo. Por isso, agora têm fome da bondade do Senhor e sede da verdade do Senhor. Por isso, Jesus diz: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos" (5:6).

Isso marca a transição para as próximas três bênçãos. A quinta, sexta e sétima bênçãos resumem as obras de caridade que constituem uma vida de retidão. Quando nos voltamos para Deus para todas as coisas, ficamos cheios de misericórdia para com os outros. E na medida em que exercemos essa misericórdia, tornamo-nos mais misericordiosos. Por isso, ao dar a quinta bênção, Jesus diz: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (5:7).

Depois, ao praticarmos a misericórdia, o perdão e a compaixão em todas as nossas relações, os nossos corações purificam-se, permitindo-nos ver o bem nos outros. Ou seja, vemos as suas qualidades dadas por Deus. Como Jesus diz na sexta bênção, "Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus" (5:8) 1

Isto leva-nos à sétima bênção. Jesus diz: "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" (5:9). Quando o Senhor está a agir em nós e através de nós, estamos num estado de paz. A nossa guerra interna está terminada. Já não existe qualquer conflito entre o que o Senhor diz na Sua Palavra e o nosso desejo de viver de acordo com isso. Como está escrito nas escrituras hebraicas: "Fala de consolação a Jerusalém e clama-lhe que a sua guerra terminou" (Isaías 40:2).

Estas sete bênçãos, na sua ordem, são uma série divina que revela o processo de regeneração, começando com o reconhecimento da nossa pobreza espiritual e terminando num estado sabático em que o Senhor está a agir em nós e através de nós. Neste estado, o Senhor é o nosso Pai celeste, e nós somos chamados filhos de Deus.

Isto conduz a uma bênção final e culminante. Jesus diz: "Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa" (5:10). Essa oitava bênção nos lembra que a vida espiritual é um processo contínuo. À medida que experimentamos as bênçãos associadas a cada estado de desenvolvimento espiritual, estamos simultaneamente a ser preparados para entrar em estados mais elevados de vida espiritual. Mas, para entrar nesses estados mais elevados, males mais sutis têm que ser expostos, combatidos e vencidos.

Assim, as provações da tentação recomeçarão, à medida que os males menos óbvios forem expostos pela luz mais brilhante da verdade divina. Estes males mais interiores erguer-se-ão dentro de nós, defendendo-se ferozmente, lutando pela sua vida. Mas se perseverarmos, recusando-nos a sucumbir aos falsos raciocínios e justificações que apoiam as preocupações egocêntricas, haverá uma grande bênção. Como está escrito: "Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus" (5:11-12).

A oitava bênção leva-nos de volta ao início da série e recorda-nos mais uma vez que a tentação nos dá a oportunidade de confirmar a nossa fé. Embora as lutas que sofremos na tentação possam ser árduas, podem ser antecipadas com alegria, porque nos colocarão em contacto com comunidades celestes mais interiores e expandirão a nossa consciência. 2

Como resultado, sentimos uma maior apreciação pelas simples bênçãos que nos rodeiam, uma maior consciência das necessidades dos outros e um maior desejo de estender a mão e servir. Por isso, Jesus diz: "Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus".

Uma aplicação prática

A oitava bênção lembra-nos que o desenvolvimento espiritual é como um currículo em espiral, onde temos oportunidades de aprender a mesma coisa, uma e outra vez, mas mais profundamente. Neste sentido, devemos encarar os desafios espirituais que surgem não como obstáculos, mas antes como trampolins para um maior desenvolvimento. Cada desafio é uma oportunidade para nos confirmarmos mais profundamente naquilo em que acreditamos. Como aplicação prática, então, da próxima vez que o seu ego for abalado, ou a impaciência surgir, ou o ressentimento ameaçar instalar-se, veja-o como uma oportunidade para responder a partir da sua consciência superior. Por outras palavras, este é o momento de confiar na verdade das escrituras sagradas, sabendo que os anjos virão para o ajudar através dessa verdade e que o Senhor lhe dará o poder para vencer. Mais importante ainda, não deixe que uma vitória na tentação sirva para aumentar o seu orgulho, inflar o seu ego ou dar-lhe falsa confiança em si mesmo. Não deixe de dar a glória a Deus, lembrando-se de que as tentações revelam tanto a sua fraqueza como o poder de Deus. Enquanto não perceberes que todo o poder vem apenas do Senhor, estarás destinado a repetir a tentação. 3

Fazer boas obras


13. "Vós sois o sal da terra; mas, se o sal se tornar insípido, com que se há-de salgar? Depois disso, não serve para nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens.

14. Vós sois a luz do mundo. Uma cidade que está situada numa montanha não pode ser escondida.

15. Não se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no candelabro, e ela brilha para todos os que estão na casa.

16. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus."


O Sermão da Montanha fornece instruções maravilhosas. No entanto, a mera instrução, sem o desejo de fazer boas obras no espírito dessa instrução, é inútil. É como o sal que perdeu o seu sabor; é como uma luz escondida debaixo de um cesto. Toda verdade é dada para ser usada. Toda bênção que Deus nos concede é feita para que possamos servir melhor ao próximo. E nesse serviço está a verdadeira bênção, pois toda recompensa celestial é o prazer que experimentamos quando estamos envolvidos em algum serviço de amor ao próximo. 4

É por esta razão que a série divina continua com estas palavras: "Vós sois o sal da terra; mas se o sal perder o seu sabor, como será temperado? Então não servirá para nada, a não ser para ser deitado fora e pisado pelos homens" (5:13).

O sal é muito útil como tempero. Mas o sal que perdeu o sabor é inútil. Da mesma forma, um ser humano que não tem desejo de fazer o bem é como sal sem sabor. A verdade deve ser posta em prática. É este o objetivo desta parte do sermão. A luz é boa, mas tem de ser utilizada: "Vós sois a luz do mundo", diz Jesus. "Uma cidade situada num monte não pode ser escondida. Nem se acende uma candeia e se coloca debaixo de um cesto, mas num candelabro, e ela ilumina todos os que estão na casa" (5:14-15).

A ênfase desta passagem não está apenas em aprender a verdade, mas em vivê-la. Por isso, Jesus diz aos seus discípulos: "Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus" (5:16). 5

A instrução espiritual não tem outro fim senão a prática de boas obras. E as boas obras só são verdadeiramente boas quando o Senhor está a trabalhar através de nós. É por isso que esta secção do sermão inclui a importante chamada de atenção para o facto de que, quando os outros vêem as nossas boas obras, todo o louvor, glória e honra devem ir para Deus. Como diz Jesus, deixa-os ver as tuas boas obras, mas certifica-te que elas "glorificam o teu Pai que está nos céus". Não se trata de nós; trata-se de Deus a trabalhar através de nós. 6

Jesus começa a revelar o significado interior das Escrituras


17."Não penseis que vim desfazer a Lei ou os Profetas; não vim para desfazer, mas para cumprir.

18. Porque vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um só yodh ou um só chifre pequeno passará da Lei, até que tudo se cumpra.

19. Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus.

20. Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus.

21. Ouvistes que foi declarado pelos antigos: Não matarás; e quem matar estará sujeito a julgamento.

22. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar precipitadamente contra seu irmão estará sujeito ao juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, estará sujeito ao conselho; e quem disser: Insensato, estará sujeito à geena do fogo.

23. Se, pois, ofereceres a tua oferta sobre o altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,"

24. Deixa ali a tua oferta diante do altar, e vai-te embora; reconcilia-te primeiro com teu irmão, e depois vem oferecer a tua oferta.

25. Não tardes em tratar bem o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que o adversário não te entregue ao juiz, e o juiz não te entregue ao guarda, e não sejas lançado na prisão.

26. Em verdade te digo que dali não sairás enquanto não pagares o último ceitil.

27. Ouvistes que foi declarado aos antigos: Não cometerás adultério.

28. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher, para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.

29. E, se o teu olho direito te fizer tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; porque te convém que um dos teus membros se perca, e não que todo o teu corpo seja lançado na geena.

30. E, se a tua mão direita te fizer tropeçar, corta-a e lança-a de ti; porque te convém que um dos teus membros se perca, e não que todo o teu corpo seja lançado na geena.

31. E foi declarado que quem despedir sua mulher, dê-lhe o divórcio.

32. Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, fora do motivo de escoriação, faz que ela cometa adultério; e qualquer que casar com a repudiada, comete adultério.

33. Ouvistes também que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas prestarás ao Senhor os teus juramentos.

34. Eu, porém, vos digo: Não jureis de modo algum; nem pelo céu, porque é o trono de Deus;

35. Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei.

36. Não jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um só cabelo branco ou preto.

37. Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não; e tudo o que está além destas coisas é do mal.

38. Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.

39. Eu, porém, vos digo: Não te levantes contra o ímpio; mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.

40. E, se alguém quiser mandar julgar-te e tirar-te a túnica, que lhe dê também a capa.

41. E quem te obrigar a percorrer uma milha, vai com ele duas.

42. Dá a quem te pedir, e não recuses a quem quiser pedir-te emprestado.

43. Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.

44. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos injuriam e vos perseguem."


É inegável que a verdade tem de ser posta em prática. Mas, para que a Palavra de Deus possa ser utilizada da melhor forma possível, é preciso compreendê-la plenamente. É por isso que Jesus dá agora aos Seus discípulos uma breve explicação sobre como ler as Escrituras, começando com este aviso: "Não penseis que vim destruir a Lei ou os Profetas. Eu não vim para destruir, mas para cumprir" (5:17).

A um nível, Jesus cumpriu de facto a Lei, na medida em que a Sua vinda cumpriu as profecias das escrituras hebraicas. Mas Ele também estava prestes a cumprir a Lei, enchendo-a de um significado mais elevado. Ele explicaria como a Lei não fala apenas do nosso comportamento exterior, mas também das nossas atitudes interiores - ou seja, dos desejos do nosso coração. Quando compreendida espiritualmente, a Lei seria útil não só para regular a conduta exterior de uma pessoa, mas, mais importante ainda, para reformar a sua vida interior.

Jesus começa pelos mandamentos. Ele diz: "Ouvistes que foi dito aos antigos: 'Não matarás' (...) Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão sem motivo, correrá o risco do juízo" (5:21-22). Do mesmo modo, Ele revela um significado mais profundo da lei contra o adultério: "Ouvistes que foi dito aos antigos: 'Não cometerás adultério'. Eu, porém, digo-vos que qualquer que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela" (5:27-28).

Estes são novos ensinamentos, mas não estão fora do alcance do Seu público. Eventualmente, haveria ensinamentos mais profundos sobre o espírito humano e o caminho para o céu, mas levaria tempo até que as pessoas pudessem entender completamente essas mensagens mais interiores. Por agora, porém, bastaria dar às pessoas lições concretas e literais que elas pudessem compreender, em vez de verdades abstractas que estivessem para além da sua compreensão.

A este respeito, Jesus ensina-os a não fazerem juramentos (ver 5:33-37), não retaliar, mas dar a face (ver 5:39), não entrar em disputas, mas dar mais do que é pedido (ver 5:40), ir além do necessário, dar a todos os que pedem e emprestar a todos os que querem pedir emprestado (ver 5:42).

Estes ensinamentos seriam difíceis de seguir, mas não difíceis de compreender. Nas palavras de Jesus estão verdades mais elevadas sobre a nossa reação quando as nossas crenças mais íntimas estão a ser atacadas - não apenas na arena pública, mas mais internamente, quando estamos a ser perseguidos por espíritos infernais que querem destruir a nossa fé. Nessas alturas, se permanecermos na verdade, não nos deixaremos desviar. 7

Em vez de ensinar estas verdades interiores, Jesus concentra as suas mentes em questões mais óbvias - como a necessidade de ultrapassar o seu desejo de vingança. Como diz Jesus: "Ouvistes que foi dito: 'Olho por olho e dente por dente'. Eu, porém, digo-vos que não resistais a um homem mau. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra" (5:38).

"Dar a face" é algo que fazemos internamente quando as nossas crenças estão a ser atacadas. Embora esses ataques possam vir através de outras pessoas, eles também podem vir através de forças espirituais invisíveis que se esforçam para destruir nossa fé em Deus e minar nossa confiança no poder de Sua verdade. Por isso, sempre que viramos a face internamente, permanecemos firmes naquilo que sabemos ser verdade.

Nessas alturas, sabemos que nenhuma palavra dita, sussurrada ou insinuada nos pode magoar ou destruir a nossa fé. Desde que não deixemos que o mal nos arraste para a luta, estamos sob a proteção de Deus. Desde que permaneçamos na bondade e na verdade do Senhor, o mal não nos pode fazer nenhum mal espiritual. Portanto, não precisamos de lhe resistir. 8

Na nossa vida natural, porém, temos de ser mais cautelosos. Não podemos nem devemos dar a todos os que nos pedem, nem emprestar a todos os que nos querem emprestar. Essa caridade indiscriminada deixar-nos-ia sem recursos para fazer o bem aos outros. Da mesma forma, não devemos permitir que ladrões, trapaceiros e vigaristas se aproveitem de nós. As pessoas que se aproveitam de vítimas inocentes devem ser denunciadas, processadas e, se forem consideradas culpadas, devem ser responsabilizadas. Ignorar o comportamento criminoso ou apoiar intenções maliciosas não faz bem aos malfeitores e é prejudicial à sociedade. 9

Em resumo, no plano externo, devemos resistir à crueldade, à fraude e à injustiça. Mas, no plano interno, podemos manter-nos calmos, tranquilos e sem perturbações. Neste plano dos nossos pensamentos e afectos, não precisamos de resistir ao mal, pois só Deus resiste aos males que nos tirariam a fé e destruiriam a nossa felicidade. 10

Estas são as lições mais interiores que Jesus dará mais tarde. Por agora, a tarefa de Jesus é manter as suas mentes numa lição simples e clara: não se deixem arrastar para estados de ódio, retaliação e vingança. Em vez disso, Jesus chama-os a elevarem-se a uma consciência mais elevada. Como diz Jesus: "Ouvistes que foi dito que amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem" (5:43-44).

Uma aplicação prática

Nesta parte do Sermão da Montanha, Jesus dá às multidões uma nova forma de responder à lei hebraica que diz: "Olho por olho, dente por dente" (Êxodo 21:24). Em vez de reagir automaticamente com uma ação destrutiva semelhante, ou seja, retribuir o mal com o mal, Jesus diz ao povo para se elevar a um novo nível de consciência com um tipo de resposta diferente. Ele diz: "Quem te der uma bofetada na face direita, dá-lhe também a outra". Como aplicação prática, então, sempre que o seu ego se sentir ferido, contrariado ou atacado, e for tentado a retribuir insulto por insulto, ferimento por ferimento, errado por errado e mal por mal, não se deixe arrastar. Em vez disso, permite que uma compreensão mais elevada domine a tua lesão emocional. Deixem que a vossa compreensão da verdade domine e domine os impulsos da vossa natureza inferior. Escolhe uma resposta mais elevada. 11

"Sede, pois, perfeitos"


45. "Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus, porque Ele faz nascer o Seu sol sobre maus e bons, e envia a chuva sobre justos e injustos.

46. Se amardes os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem os publicanos o mesmo?

47. E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis além dos outros? Não o fazem também os publicanos?

48. Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus."


Ao continuar o Seu discurso, Jesus fala sobre a forma como devemos encarar os outros. Quer os consideremos amigos ou inimigos, devemos tratá-los de forma justa e equitativa. Para ilustrar este ponto, Jesus descreve a imparcialidade de Deus, dizendo: "Ele faz brilhar o seu sol sobre os bons e sobre os maus, e faz cair a sua chuva sobre os justos e sobre os injustos" (5:45). Simbolicamente, isto refere-se à bondade de Deus que brilha sobre todos sem parcialidade, e à verdade de Deus que está disponível para todas as pessoas, tal como a chuva que cai sobre todos.

Do mesmo modo, somos chamados a estender a boa vontade a todos, de forma imparcial e equitativa. Ao oferecer esta ilustração, Jesus está a chamar os ouvintes a serem justos e caridosos para com todos, não apenas para com a sua família, amigos e vizinhos. Apela-lhes para que se desapeguem dos seus preconceitos e sejam imparciais nas suas relações.

Tal como o sol e a chuva, as suas boas acções devem estender-se a todos. Afinal de contas, é fácil amar aqueles que os amam. Mas, a partir de agora, devem ser caridosos para com toda a gente. Como diz Jesus: "Se amardes aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem o mesmo até os cobradores de impostos? (5:46).

É fácil amar aqueles que nos amam. Isso é natural. Mas há outro tipo de amor que só vem do Senhor. É amar aqueles que não nos amam, incluindo os nossos inimigos. Reconhecendo que isto não é fácil e que requer um maior refinamento espiritual, Jesus diz: "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus" (5:48).

Deve-se notar que este versículo é frequentemente traduzido como uma promessa e não como um comando. Em vez de "Sede vós, pois, perfeitos", tem sido traduzido como "Sereis perfeitos". Não é isso que Jesus quer dizer. Para Jesus, o que importa é o esforço para ser perfeito, não o facto de se atingir a perfeição. Mesmo os anjos nunca podem atingir um estado de perfeição final. Nem nós. Mas podemos perseverar; podemos nos esforçar; podemos nos esforçar para sermos perfeitos "assim como nosso Pai nos céus é perfeito". 12

É certo que a busca da perfeição pode ser difícil - não só para as pessoas dos tempos bíblicos, mas também para nós hoje. O interesse próprio tem de ser ultrapassado; os ressentimentos têm de ser postos de lado; a generosidade tem de prevalecer sobre a ganância; o perdão tem de tomar o lugar da vingança e o amor tem de triunfar sobre o ódio. Sem Deus, ninguém pode realizar nada disto - e a perfeição torna-se um objetivo inatingível.

A única forma de nos aproximarmos deste nível de perfeição espiritual é reconhecermos e reconhecermos a nossa imperfeição. Só então, com a ajuda de Deus, podemos começar a afastar os males e a lutar pelo refinamento das nossas almas. O ponto de partida é a vontade de evitar os males como pecados contra Deus, de rezar e receber as verdades divinas e, finalmente, de viver de acordo com elas.

Tudo isto está contido no mandamento de Jesus: "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus." Dessa forma, ao confiarmos cada vez mais na orientação do Senhor - reconhecendo que Ele é a fonte de todo sentimento amoroso, todo pensamento nobre e toda ação digna de nota - seremos contínua e crescentemente aperfeiçoados, tanto nesta vida quanto na próxima. 13

Fusnotat:

1AE 340:10: “Os que são 'puros de coração' são aqueles que estão no bem por amor". Ver também SE 2783: “Deve-se amar o bem que está numa pessoa.... Assim se ama o Senhor, porque não há nada de bom, nem de fé, que não seja do Senhor, e assim também pelo próximo se ama o Senhor".

2Arcanos Celestes 6611: “As pessoas que se deixam regenerar são continuamente levadas para cima, portanto sempre para comunidades celestiais mais interiores. O Senhor permite que a esfera daqueles que estão a ser regenerados se estenda a essas comunidades principalmente através de tentações, nas quais os males e as falsidades estão a ser combatidos. Pois durante as tentações, o Senhor luta por meio dos anjos contra os males e as falsidades, e desta forma a pessoa é conduzida a comunidades de anjos cada vez mais interiores. Uma vez que as pessoas foram conduzidas a essas comunidades mais interiores, elas permanecem lá. E é isso que lhes dá uma capacidade de perceção mais alargada e elevada".

3AC 1661:4: “Quando o homem supõe que o bem e a verdade provêm dele mesmo e que o poder de resistir ao mal e à falsidade é seu, então os bens e as verdades contra os quais luta não são bens e verdades, embora o pareçam.... Isto porque colocam na vitória o mérito próprio e se gloriam como se fossem eles que tivessem vencido o mal e a falsidade, quando só o Senhor é quem combate e vence." Ver também AC 2273:2: “As tentações que as pessoas vencem são acompanhadas da crença de que todos os outros são mais dignos do que elas, e que são infernais em vez de celestiais.... Se, depois das tentações, o homem passa a ter pensamentos contrários a estes, é sinal de que não venceu.... Portanto, sofrerão tentações semelhantes, e às vezes mais penosas, até que sejam reduzidos a tal sanidade que acreditem não ter merecido nada."

4AC 8002:7: “A razão pela qual o Senhor diz tantas vezes que aqueles que fazem o bem terão a sua recompensa no céu é que, antes de as pessoas serem regeneradas, não podem deixar de pensar na recompensa. Mas é diferente depois da regeneração. Então, ficam indignadas se alguém pensar que fazem o bem ao próximo por causa da recompensa; pois sentem prazer e felicidade em fazer o bem, mas não em retribuição. No sentido interno, 'recompensa' é o prazer pertencente à afeição que acompanha a caridade para com o próximo."

5Arcanos Celestes 9207: “Por "sal da terra", o Senhor entende a verdade que tem um desejo de bem, e por "sal insípido", a verdade desprovida de qualquer desejo de bem. O facto de tal verdade não ter valor é retratado pela ideia do sal que se tornou insípido e já não tem qualquer utilidade, a não ser a de ser lançado ao ar livre e pisado pelas pessoas. Desejar o bem significa ter o desejo de fazer o bem e, assim, unir-se ao bem."

6Doutrina de Vida para a Nova Jerusalém 29: “A Palavra ensina que ninguém pode fazer o bem a partir de si mesmo, mas que o faz a partir do Senhor. Jesus disse: 'Eu sou a videira verdadeira, e Meu Pai é o viticultor.... Como a vara não pode dar fruto por si mesma, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim' (João 15:1-6).”

7AC 9049:4-6: “O Senhor diz: "Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente; eu, porém, vos digo: Não resistais ao mal; mas, a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra...". Quem não vê que estas palavras não devem ser entendidas segundo o sentido da letra? Pois quem dará a face esquerda àquele que lhe der um golpe na face direita? E quem dará a sua capa àquele que lhe quiser tirar a túnica? E quem dará os seus bens a todos os que lhos pedirem? E quem não resistirá ao mal? .... O assunto aqui tratado é a vida espiritual, ou a vida da fé; não a vida natural, que é a vida do mundo. A razão, portanto, pela qual o mal não deve ser resistido, é que o mal não faz mal àqueles que estão na verdade e no bem, pois eles são protegidos pelo Senhor."

8AC 9049:6: “A razão, portanto, pela qual não se deve resistir ao mal é que o mal não pode ter qualquer efeito nocivo sobre aqueles que são governados pela verdade e pelo bem, pois eles são protegidos pelo Senhor." Veja também "Apocalipse Explicato 556: “O preceito de não resistir ao mal, significa que não se deve resistir com violência, nem retaliar, pois os anjos não lutam com os maus, muito menos retribuem o mal com o mal, mas permitem que eles o façam, porque são defendidos pelo Senhor e, portanto, nenhum mal do inferno pode feri-los. As palavras: "Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra", significam que se alguém quiser prejudicar a perceção e a compreensão da verdade interior, isso pode ser permitido na medida do esforço. Isto porque 'a face' significa a perceção e compreensão da verdade interior, a 'face direita' significa a afeição por ela e consequente perceção da mesma, e a 'face esquerda' significa a compreensão da mesma.... É o que fazem os anjos quando estão com os maus, pois os maus nada podem tirar de bom e de verdadeiro aos anjos, mas podem aos que por isso ardem em inimizade, ódio e vingança, pois esses males afastam e repelem a proteção do Senhor.... Este é o sentido espiritual destas palavras, nas quais estão armazenadas as coisas ocultas que agora foram ditas, que são especialmente para os anjos que percebem a Palavra apenas de acordo com o seu sentido espiritual. Estas palavras são também para as pessoas do mundo que estão no bem, quando os maus estão a tentar desviá-las."

9Céu e Inferno 390: “Os juízes que castigam os malfeitores para que se reformem (...) amam o seu próximo". Ver também Céu e Inferno 390: “Aqueles que amam a pessoa, e não aquilo que está numa pessoa e que a constitui, amam igualmente uma pessoa má e uma pessoa boa.... E, no entanto, fazer o bem ao mau é fazer o mal ao bom e isso não é amar o próximo."

10AC 9049:6: “Agora será dito o que significam, no sentido interno, as palavras do Senhor. O sentido interno diz respeito àqueles que querem destruir, por meio de falsidades, as verdades da fé, ou seja, a vida espiritual com uma pessoa que está em tentação.... A razão, portanto, pela qual não se deve resistir ao mal, é que o mal não faz mal aos que estão na verdade e no bem, pois eles são protegidos pelo Senhor." Ver também AE 695:19: “O Senhor resiste e vence por uma pessoa nos combates das tentações".

11TCR 588:1-2: “Por causa da sua regeneração, as pessoas são dotadas da capacidade de elevar o seu entendimento quase até à luz em que os anjos do céu estão.... Isso porque a vontade, por nascimento, inclina-se para os males, mesmo para os males enormes. Se a vontade não fosse refreada pelo entendimento, mas deixada correr livremente, os homens precipitar-se-iam em grandes maldades e, devido à natureza selvagem que lhes é inerente, eliminariam [depopularetur] e massacrariam [trucidaret] todos os que não os favorecessem e não satisfizessem os seus desejos. Além disso, se as pessoas não fossem capazes de aperfeiçoar o seu entendimento separadamente, e de aperfeiçoar a sua vontade por meio dele, não seriam de todo humanas, mas seriam animais. Porque sem a separação entre o entendimento e a vontade, e se o seu entendimento não pudesse ser elevado acima da sua vontade... não seriam capazes de agir pela razão, mas apenas pelo instinto."

12O Amor Conjugal 71: “Nenhum amor humano ou angélico pode jamais tornar-se totalmente puro, nem o amor conjugal; mas a intenção, que é da vontade, é o que o Senhor considera em primeiro lugar. Portanto, na medida em que uma pessoa tem a intenção e persevera nela, essa pessoa é introduzida e gradualmente avança na pureza e santidade do amor conjugal."

13Arcanos Celestes 894: Não existe um período de tempo definido em que alguém esteja suficientemente regenerado para poder dizer: "Agora sou perfeito". De facto, existe um número ilimitado de estados de maldade e falsidade em cada um de nós, não apenas estados simples, mas também estados variados e complexos que têm de ser eliminados de forma a não se repetirem. Em alguns estados um indivíduo pode ser chamado de mais perfeito, mas em inúmeros outros ele não pode. As pessoas que foram regeneradas durante a sua vida, e em cujas vidas a fé no Senhor e a caridade para com o próximo estiveram presentes, estão na próxima vida sendo aperfeiçoadas o tempo todo."